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segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Polónia - Kraków - Estátua "Smok Wawelski"




A estátua,em bronze,do "Smok Wawelski" é da autoria do escultor Bronisław Chromy.
A estátua tem 6 metros de altura e está instalada numa grande pedra calcária.
Foi concluída em 1969 e colocada neste local em 1972.

sábado, 4 de maio de 2019

Portugal - Lagos - Mercado Municipal - As Maias


"As Maias" é uma tradição que anuncia a primaveral cujas origens se perdem no tempo. 
O ritual das Maias ocorre na passagem de 30 de abril para 1 de maio. 
O costume é de se enfeitar portas, janelas e outros locais com flores e giestas amarela e de construir bonecos feitos de trapos e palha de centeio, que seguram fruta da época ou ramos de flores. 
Os bonecos podem ser apenas um homem, uma mulher ou um casal.
O nome de Maias parece aludir a Maia, a Deusa romana da Fertilidade e da Primavera.
Em Lagos a tradição regressa todos os anos, com a abertura de um concurso para a eleição da Maia mais bonita da cidade. Na escadaria do Mercado, é realizada a exposição das melhores Maias. 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Polónia - Opłatek





O costume da divisão da Opłatek (hóstia) antes do jantar da véspera de Natal é para o povo polaco, um dos momentos mais importantes da ceia de Natal.  
Esta tradição inspira-se na Última Ceia de Jesus Cristo quando este dividiu o pão com os seus discípulos. 
O dono da casa começa por dividir a hóstia e distribuí-la entre os presentes no jantar da véspera de Natal.
De seguida, os presentes dividem os seus pedaços da hóstia e trocam-nos com os outros convidados. Quando todos dividirem a hóstia e trocarem votos, podem sentar-se à mesa e começar a comer.

sábado, 25 de agosto de 2018

Itália - Veneza - Monumento "ai Tetrarchi"



O monumento "ai Tetrarchi" é uma obra do século III .
A escultura foi trazida para Veneza após o saque de Constantinopla, em 1204. 
Trabalhada num bloco de pórfiro vermelho, com cerca de 130 centímetros de altura, representa, as figuras dos 4 "tetrarcas", dois César e dois Augusto.
Está instalada na Basílica de São Marco.

Há uma lenda popular que diz que esta escultura representa quatro ladrões que foram surpreendidos a roubar o tesouro guardado na Basílica e ficaram paralisados e petrificados na parede da Sala do Tesouro.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Croácia - Dubrovnik - Grade com cadeados do amor




Os "cadeados do amor" são cadeados que os namorados fixam numa ponte ou numa grade e pretendem simbolizar o seu amor eterno. 
Normalmente, os apaixonados inscrevem os seus nomes ou iniciais no cadeado e lançam a sua chave para longe com a intenção de tornar o seu amor inquebrável. 

A tradição dos cadeados do amor iniciou-se durante a Primeira Guerra Mundial, na ponte Most Ljubavi, na cidade de Vrnjačka Banja, quando uma jovem chamada Nada, natural da cidade se apaixonou por um oficial sérvio chamado Relja. 
Eles ficam noivos, mas  Relja teve que partir para a guerra, na Grécia. Lá, ele apaixona-se por uma mulher de Corfu. 
Relja e Nada romperam o noivado. A jovem apaixonada não se recuperou do golpe devastador, e algum tempo depois morreu. As mulheres apaixonadas, de Vrnjačka Banja, para protegerem os seus amores começaram a escrever os próprios nomes e dos seus apaixonados em cadeados e fechavam-nos nas grades da ponte onde Nada e Relja se encontraram.

Croácia - Dubrovnik - Estátua de Marin Držić



A estátua de bronze do escritor Marin Držić é obra do escultor Ivan Meštrović 
Os visitantes de Dubrovnik tem o costume de esfregar o nariz da estátua e de tirar fotos sentados ao seu colo com o objetivo que lhes traga sorte.
Marin Držić nasceu em 1508 e faleceu em 1567. É carinhosamente chamado de Shakespeare de Dubrovnik, ele é conhecido pelas suas comédias que lançam uma luz sobre as realidades sociais do período da Renascença.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Portugal - Albufeira - Dia da Espiga



A "Quinta-feira da espiga" ou o "Dia da espiga" celebra-se na Quinta-feira da Ascensão (data religiosa que, na tradição cristã, celebra a subida de Jesus Cristo, 40 dias após a sua ressurreição, aos céus).
Neste dia, durante um passeio matinal, pelo campo, colhem-se espigas de vários cereais (sempre em número ímpar), um raminho de oliveira, flores campestres (papoilas, margaridas) e varas de videira,  para depois se formar um ramo, que se chama "Ramo da espiga". 
Cada planta que forma a ramo da espiga tem a sua simbologia. Assim, as espigas de vários cereais representam o pão, o raminho de oliveira representa o azeite, a luz e a paz, o alecrim representa a saúde e a força, as varas de videira representam o vinho e a alegria, os malmequeres representam a fortuna (ouro e prata) e as papoilas representam o amor e a vida.
Segundo a tradição popular, o ramo devia ser colocado atrás da porta da entrada de casa, e só devia ser substituído, por um novo, no dia da espiga do ano seguinte, para que nessa casa houvesse pão, azeite, vinho, fortuna, amor, paz, saúde e alegria durante todo o ano.

domingo, 1 de abril de 2018

Portugal - Benafim - Painel de azulejos "Lenda de Benafim"




Painel de azulejos da autoria de Vitor Borges, com o tema da origem do nome de Benafim. No painel são retratados D. Branca e Aben-Afan. O painel foi realizado em 1996 e está instalado numa parede dos lavadouros da Praça Pública.


LENDA DE BENAFIM

Ano de Graça de 1240... Aben-Afan, Cônsul do Império Árabe em Xelb (Silves), constrói no coração do Algarve um palácio luxuoso , ninho d'amores passageiros... Apaixona-se então por D.Branca, filha de Afonso III e senhora de Lorvão , cuja imagem formosíssima se materializou perante o nosso Cônsul maravilhado, através das magias sugestivas da fada Alina. Louco de paixão, Aben-Afan resolve raptar a sua formosa cristã, levando-a para o seu palácio encantado escondido nos olivais do Barrocal. Diante dos ramos de murta e de louro - o primeiro, símbolo de amor, o segundo de glória militar - o fogoso Cônsul escolhe a murta... 
Isolados do resto do mundo, os dois amantes gozam em plena liberdade, a embriaguez da paixão. Mil promessas, mil beijos! Cavalgadas do nascer ao pôr do sol, naquelas colinas ainda virgens, perfumadas pelo alecrim e pelo tomilho, as pedras ainda se recordam daquelas silhuetas irreais montadas em cavalos brancos, percorrendo as várzeas floridas, cristalizando-se numa eterna Primavera... Mas, como todas as paixões, o ramo de murta começa a murchar, depressa chega o tédio e o arrependimento. 
Afonso III corre à conquista dos Algarves e, quebrando o encanto, na noite de S.João, Aben-Afan vai defender Silves combatendo valentemente com Mestre Sant´Iago e D.Paio Peres Correia, Aben-Afan acaba por morrer à porta da Azóia.

in, http://myciw.org/forums/showthread.php?t=2280 

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Portugal - Armação de Pêra - Prunus dulcis (Amendoeira) - Lenda das Amendoeiras em flor




Lenda das Amendoeiras Em Flor

Há muitos séculos, reinava em Chelb, a futura Silves, o rei Ibn-Almundim. Este rei nunca tinha conhecido uma derrota.
Um dia, entre os prisioneiros de uma batalha, viu a linda Gilda, uma princesa loira de olhos azuis e porte altivo. Impressionado, o rei mouro deu-lhe a liberdade.
Conquistando progressivamente a confiança de Gilda, confessou-lhe o seu amor e pediu-a em casamento. Foram felizes durante algum tempo, até que, um dia, a bela princesa do Norte adoeceu sem razão aparente.
Um velho cativo das terras do Norte pediu para ser recebido pelo rei e revelou-lhe que a princesa sofria de nostalgia da neve do seu país distante. Então, Ibn-Almundim mandou plantar por todo o seu reino muitas amendoeiras.
Na primavera seguinte, o rei levou Gilda à janela do terraço do castelo. Ao ver as flores brancas das amendoeiras, a princesa começou a sentir-se melhor, pois davam-lhe a ilusão da neve. Gilda ficou curada da saudade que sentia.
in, https://www.infopedia.pt/$lenda-das-amendoeiras-em-flor

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Portugal - Castelo de Vide - Convento e torre do relógio




Estas são as ruínas e a torre do relógio do inacabado convento de Castelo de Vide, destruído por um violento incêndio.

A propósito deste incêndio no convento, o povo conta a seguinte lenda:

LENDA DA SENHORA DA ALEGRIA

Quando as obras do convento de Castelo de Vide estavam em adiantado estado, deflagrou um violento incêndio, nas mesmas. Apesar de ser de noite, a população ocorreu ao local para o apagar, mas as labaredas já estavam muito altas e bem próximas do vizinho armazém de pólvora. 
O acesso à água era penoso (as fontes ficavam longe e eram de difícil acesso). 
Perante esta dificuldade o povo voltou-se para a Igreja da Senhora da Alegria e implorou à Senhora da Alegria que lhes acudisse. 
Sem outra explicação o incêndio extinguiu-se.
Toda a população agradeceu a protecção da Senhora da Alegria e todos quiseram beijar-lhe os pés, mal se atrevendo a olhar o seu rosto. 
De súbito, alguém que agarrava o manto de púrpura e ouro que cobria a imagem gritou: 
— Milagre! Milagre! 
O povo, então, verificou que uma das pontas do manto estava queimada, porque a Santa apagara o fogo com ele. 

domingo, 8 de outubro de 2017

Portugal - Almeirim - Estátua dedicada ao frade da lenda da sopa da pedra





Lenda da Sopa da Pedra

Um frade andava no peditório. Chegou à porta de um lavrador, não lhe quiseram aí dar esmola. O frade estava a cair com fome, e disse:
- Vou ver se faço um caldinho de pedra!
E pegou numa pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela, para ver se era boa para fazer um caldo. A gente da casa pôs-se a rir do frade e daquela lembrança.
Perguntou o frade :
- Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa boa.
Responderam-lhe :
- Sempre queremos ver isso!
Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, pediu :
- Se me emprestassem aí um pucarinho.
Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro.
- Agora, se me deixassem estar a panelinha aí ao pé das brasas.
Deixaram. Assim que a panela começou a chiar, tornou ele :
- Com um bocadinho de unto, é que o caldo ficava um primor!
Foram-lhe buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada pelo que via. Dizia o frade, provando o caldo :
- Está um bocadinho insosso. Bem precisava de uma pedrinha de sal.
Também lhe deram o sal. Temperou, provou e afirmou :
- Agora é que, com uns olhinhos de couve o caldo ficava que até os anjos o comeriam!
A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves tenras.
O frade limpou-as e ripou-as com os dedos, deitando as folhas na panela.
Quando os olhos já estavam aferventados, disse o frade :
- Ai, um naquinho de chouriço é que lhe dava uma graça.
Trouxeram-lhe um pedaço de chouriço. Ele botou-o à panela e, enquanto se cozia, tirou do alforje pão e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era uma regalo. Comeu e lambeu o beiço. Depois de despejada a panela, ficou a pedra no fundo. A gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou:
- Ó senhor frade, então a pedra?
Respondeu o frade :
- A pedra lavo-a e levo-a comigo para outra vez.

in, http://www.cm-almeirim.pt/conhecer-almeirim/gastronomia/item/205-a-lenda-da-sopa-da-pedra


quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Portugal - Coiro da Burra - Painel de azulejos da lenda "O Encantamento de Estoi"








Lenda do Encantamento de Estoi

"Haverá uns cento e quinze anos, residia em S. Brás de Alportel um almocreve chamado José Coimbra. No desempenho da sua profissão, dirigia-se em certo dia para Faro, quando no sítio do Milreu, assaz conhecido pelas preciosas escavações nele feitas sob vigilância do benemérito algarvio, Estácio da Veiga, lhe apareceu subitamente uma formosa moura, vestida de azul, com os seus cabelos soltos em ondeadas madeixas. No seu olhar doce e ingénuo manifestava uns olhos azuis, que pareciam reflectir o próprio céu.

José Coimbra ficou surpreendido e não pôde articular uma palavra. Ouvira dizer aos seus pais que naquele sítio, distante de Estoi uns duzentos metros, aparecia uma moura encantada, e ele nunca dera crédito a tal aparição. 
A moura, de uma bondade extrema, e sob a aparência de um anjo, convidou José Coimbra a acompanhá-la. 
O almocreve, de boa ou má vontade, aceitou o convite. Então a moura bateu com o seu pequenino pé no solo por três vezes, acompanhando estes movimentos com a leve pancada da vara mágica e, ao mesmo tempo, abriu-se uma porta, pela qual ambos entraram, descendo em seguida uma escadaria do mais puro e fino porfido. Em poucos momentos viram-se numa ampla sala de paredes e colunas de ouro maciço. 
José Coimbra ficou pasmado de tanta riqueza! E ele então que nunca lera as descrições dos palácios encantados das Mil e Uma Noites. 
Em breve, porém, saiu deste pasmo quando viu acorrentados a cada 
um dos dois cantos da sala um leão e uma serpente. O seu primeiro movimento foi de profundo susto, mas depois pensou que, sendo tudo o que via verdadeiramente extraordinário, devia manter o seu sossego de espírito. E ficou sossegado. 
Então a moura falou-lhe assim: 
— Se quiseres trocar essa vida arrastada que levas pela vida da opulência e ser possuidor deste vastíssimo palácio, onde o ouro é ainda o que menos valor tem, só de ti depende. 
— O que tenho de fazer? perguntou o almocreve, prelibando os gozos da opulência, não desviando os olhos dos bichos. 
Sem responder directamente à pergunta, disse a moura: 
— Apenas três condições te imponho: consentires em ser três vezes engolido e três vezes vomitado pelo meu irmão: três vezes serás depois abraçado por minha irmã, ficando o teu corpo ulcerado nos pontos em que ela se enroscar; e depois de tudo isto consentires ainda que eu te oscule a fronte, tirando-te os santos óleos, que recebeste no baptismo. 
José Coimbra, fingindo o sossego de espírito que não tinha, limitou-se a perguntar onde estava o irmão e a irmã da moura. Esta, apontando para o leão disse: é o meu irmão; e voltando-se para a serpente respondeu: é a minha irmã. 
Então o almocreve, sob pretexto de pensar maduramente nas condições impostas, respondeu que brevemente voltaria ao lugar, onde se tinham encontrado, a dar-lhe a resposta. A moura não só se não mostrou contrariada com a resposta, mas até o convenceu de levar consigo duas barras de ouro. 
José Coimbra aceitou a oferta e saiu do palácio acompanhado da formosa moura. 
Quando o pobre homem chegou a casa escondeu as duas barras de ouro onde a mulher nunca pudesse encontrar, e ocultou a toda a gente o que lhe tinha acontecido. 
É escusado dizer que o almocreve nunca mais pensou em voltar ao palácio encantado. Muitas, noites sonhou que se via engolido e vomitado pelo leão, e outras vezes que se via abraçado pela serpente e beijado pela moura, e então punha-se a gritar, sendo necessário que a mulher o acordasse e o livrasse daquilo a que ele chamava o seu pesadelo. 
Passados alguns anos começou José Coimbra a sofrer os efeitos de uma grande crise económica. Os negócios corriam-lhe mal, longas estiagens tinham arruinado os campos, e a fome com todo o seu cortejo de horrores começou a bater rijo às portas do pobre almocreve. 
Então lembrou-se que podia vender na feira de Vila Viçosa, no Alentejo, as duas barras de ouro. 
Coisa notável! À medida que José Coimbra acariciava a ideia de vender as barras, ia sentindo ofuscar-se-lhe a vista, começando por sentir apenas umas névoas nos olhos, e a breve trecho estava completamente cego. 
Desgraça sobre desgraça: pobre cego! 
Consultou o infeliz os médicos mais acreditados que, infelizmente, não descobriram o remédio eficaz para debelar a horrível oftalmia; consultou os barbeiros, que tiveram a habilidade de agravar a doença e, afinal, tendo ouvido dizer que a Faro tinham chegado do estrangeiro dois médicos de fama, resolveu consultá-los. 
A mulher do infeliz e alguns vizinhos ajudaram-no a montar em uma jumenta, e lá vai o pobre cego, acompanhado de sua mulher, até Faro em procura da vista perdida! 
Chegados ao sítio do Milreu, precisou o infeliz de desmontar e, enquanto a mulher, com a jumenta pela arreata, se dirigia a uma casa ali próxima, ele saiu da estrada alguns passos. Então apareceu-lhe novamente a moura, que ele conheceu pelo timbre da voz: Increpou-o de falta de palavra, por não ter levado a resposta prometida. 
— Por isso, continuou ela com voz um pouco alterada, estás sofrendo os terríveis efeitos, e sabes mais que se te poupei a vida foi porque não caiste em divulgar o meu segredo e dos meus pobres irmãos. 
O almocreve mal ouviu a moura falar nos seus pobres irmãos, pôs-se a tremer. 
A moura, porque nada lucrasse com a infelicidade do almocreve ou porque se condoesse do estado desgraçado daquele pobre, abrandou a voz e disse: 
— Vai para casa. Amanhã, antes do sol nado, senta-te à tua porta, porque no momento do nascer o sol, os teus olhos darão dois estalos, como duas amêndoas duras, e então começarás a ver: primeiramente as casas fronteiras do Padre José Dias e as gaiolas com os seus lindos canários dependurados na parede, depois os belos campos que circundam a povoação. 
Ficou o cego satisfeito com este conselho e pôs-se a chamar a mulher, logo que se encontrou sózinho. 
Acudiu a mulher e veio acompanhada do dono da casa para a ajudar a pôr o marido sobre a jumenta. 
— Resolvi voltar para casa, disse o cego. 
— Pois não queres consultar os médicos? 
— Não. Quantas mais consultas pior me encontro. Estamos pobres e não quem deitar à rua o último dinheiro que possuo. 
E ambos voltaram para casa. 
No dia seguinte, muito antes do sol nado, ergueu-se o infeliz almocreve da sua cama e pediu à mulher que o acompanhasse à porta da rua. 
— Para que te levantas tão cedo, homem? 
— Quero sentar-me sobre o portal, ouvir os cantos dos passarinhos, já que os não posso ver, e aspirar a doce e suave fragrância das rosas. 
A mulher acompanhou o marido-arrumado ao seu bordão, e sentou-se sobre o portal, enquanto ela varria a casa. 
Apenas nasceu o sol, foram tão fortes os dois estalos anunciados pela moura que a mulher, na suposição de que o marido andava à bordoada com as pedras da calçada, começou o gritar do interior da casa aconselhando ao marido juízo e prudência. 
Em resposta o marido deu dois enormes gritos, exclamando: 
— Vem cá, mulher... vejo o sol, as casas do padre José e a gaiola dos canários. 
E era verdade. Cheia de alegria por ver o marido com os olhos limpos de nevoa pôs-se a abraçá-lo. 
Não diz a lenda se o almocreve tornou a passar pelo sítio do Milreu, mas muita gente afirma que ainda hoje aparece a moura desditosa à espera de quem a desencante e aos seus irmãos."

in, http://www.lendarium.org/narrative/o-encantamento-de-estoi/?category=4